Perguntado se a retórica acusatória nos diálogos entre Moscou e Washington, e o aumento nas demonstrações de poderio militar da Rússia poderiam levar a uma nova Guerra Fria, Putin respondeu que duas rodadas de expansão da Otan na Europa Central e Oriental foram “grande mudanças no cenário geopolítico”, que forçaram a Rússia a responder, e afirmou que o retorno dos voos estratégicos no exterior foram uma resposta aos voos de bombardeiros nucleares americanos próximos às fronteiras russas anos atrás.
— A Otan e os Estados Unidos têm bases militares espalhadas por todo o planeta, inclusive em áreas próximas às nossas fronteiras, e esse número não para de crescer — afirmou o presidente. — Além disso, recentemente a Otan deslocou forças de operações especiais para países vizinhos.
Acusações por parte de líderes ocidentais de tentar reanimar as tensões da Guerra Fria não são novidade para Putin. O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, afirma ter disto a Putin, na semana passada, em Pequim, que “parasse de tentar recriar as glórias perdidas da era czarista ou da antiga União Soviética”. Em agosto, o presidente americano, Barack Obama, afirmou em um talk-show que “os russos costumam recair na mentalidade da Guerra Fria”. Em um discurso em Brisbane, na Austrália, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que as sanções contra a Rússia continuariam pelo tempo que fossem necessárias e alertou para o perigo da crescente influência russa na Europa Oriental. Também nessa segunda, a chefe da política externa da União Europeia, Federica Mogherini — acusada pelos críticos de não ser suficientemente dura com a Rússia —, pediu intensificação na diplomacia entre Kiev e Moscou para dar um fim à crise ucraniana, e afirmou que Moscou não pode criar uma cisão entre a Europa e os Estados Unidos.
Durante a entrevista, Putin se esquivou de uma pergunta sobre o envio de armas a separatistas rebeldes e o deslocamento de tropas russas para o Leste da Ucrânia.
— Hoje em dia as pessoas que travam uma luta e acreditam no que fazem vão sempre conseguir armas — disse Putin, condenado o Ocidente por apoiar o uso de mísseis por parte das forças do governo ucraniano. — Vocês querem que o governo ucraniano aniquile todos os cidadãos do Leste da Ucrânia? Nós certamente não queremos, e não permitiremos que isso aconteça.
Putin também afirmou que a “amizade” entre Rússia e Alemanha nunca esteve tão forte. Grupos empresariais alemães são alguns dos principais opositores das sanções, mas nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia confirmou que um funcionário da embaixada alemã de Moscou foi deportado “em resposta às ações pouco amigáveis contra um empregado de uma instituição russa na Alemanha”. Segundo o diário alemão “Der Spiegel”, um diplomata russo em Bonn foi expulso do país por suspeita de espionagem.
Moscou também deportou Alexei Kholostov, um ex-parlamentar letão, e defensor da minoria russa do país, sob acusações de espionagem. Em entrevista à TV russa, Kholostov afirmou que estava no país “em uma missão das forças especiais da Letônia, que trabalha sob o controle da CIA”. Em outro escândalo de espionagem, quatro diplomatas poloneses foram deportados por “atividades incompatíveis com seus status”, um tradicional eufemismo para espionagem. O Ministério polonês da Relações Exteriores classificou a manobra como “uma resposta simétrica” após autoridades prenderem um militar e um advogado polonês de origem russa no mês passado, sob suspeita de espionagem para a Rússia.
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