Conjunto de diretrizes deve pautar as ações e decisões militares russas pelos próximos 10 anos
Por Víktor Litóvkin
Analista militar e coronel reformado do Exército russo.
No final de novembro, o presidente russo
Vladímir Pútin realizou uma série das já tradicionais reuniões com os
líderes do departamento e indústria militares. Os encontros foram
dedicados à análise dos exercícios militares do ano que termina e planos
para 2015, à discussão do novo Programa de Armamento do Estado para
2015-25, aos preparativos para o lançamento do “Livro Branco” sobre a
defesa da Rússia e à nova edição da Doutrina Militar.
Durante a URSS, o “Livro Branco” jamais foi publicado. Nos últimos anos foram feitas várias tentativas para relatar o máximo possível sobre o Exército russo e os desafios que enfrenta. Em 2007 foi lançada a apostila “Tarefas atuais do desenvolvimento das Forças Armadas da Federação Russa”, mas, pela diferença de conteúdos, não se pode compará-lo ao chamado “Livro Branco”, que possui análogos anualmente editados nos principais países do mundo.
Já as metas, tarefas e orientações da atuação das Forças Armadas, e do país como um todo, deverão, em princípio, ser apresentados na nova edição da Doutrina Militar. Desde que a versão atual do documento foi aprovada por um decreto presidencial em 2010, diversos acontecimentos modificaram o cenário internacional e o próprio país. Entre eles, pode-se citar, a guerra civil na Síria, a tomada do norte do Iraque pela organização extremista Estado Islâmico e o aumento da tensão entre a Rússia e os Estados Unidos (bem como a Otan).
O documento deve, portanto, considerar a implantação pelos EUA e pela Otan de unidades de um sistema de defesa antimíssil junto das fronteiras da Rússia e os constantes exercícios da Otan, com embarcações da Aliança navegando perto de águas territoriais russas nos mares Negro e Báltico.
Todos esses fatores, somados à ideia de guerra informativa e psicológica, exigem uma consciencialização conceptual e desenvolvimento de uma nova teoria e prática para combater o “comportamento agressivo dos países do Ocidente”, acreditam os membros do Conselho de Segurança da Rússia.
Potencial inimigo?
Diante do desenvolvimento de uma nova Doutrina Militar russa, surge então a pergunta: o documento irá ou não apresentar o conceito de “potencial inimigo”? E a quem seria designado? Os redatores da doutrina russa de 2010 evitaram cuidadosamente esse conceito, embora os Estados Unidos e a Otan indiretamente se refiram à Rússia como tal.
Outra questão fundamental da nova edição são os princípios de utilização de armamento nuclear. Existe muita controvérsia em torno dessa questão. Alguns especialistas nacionais defendem que na doutrina deve constar o direito da Rússia de efetuar um ataque nuclear preventivo em caso de necessidade de proteger a sua independência e soberania contra forças inimigas superiores. Outros argumentam que essa abordagem terá ressonância extremamente negativa na opinião pública internacional.
O ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas russas, o general Iúri Baluievski, que participou da elaboração da Doutrina Militar de 2010, afirma que os documentos anteriores de 1993 e 2000 não previam o uso de armas nucleares em ataques preventivos – o mesmo é verdade para o documento produzido em 2010. Segundo ele, isso também não vai entrar na nova edição. A Rússia não recorre a essas táticas para resolver contradições internacionais graves. E se, para comparação, utilizarmos os termos adotados pela Otan, então, na base da Doutrina Militar russa está o princípio da “dissuasão nuclear defensiva”.
Caráter defensivo
É esse mesmo princípio defensivo que, segundo Baluievski, deverá constar na nova versão da Doutrina Militar. O documento terá que certamente atender às questões em torno da guerra informativa e psicológica que alguns países ocidentais e os seus meios de comunicação eletrônicos e impressos estão adotando contra a Rússia.
Desse modo, a nova versão tratará de problemas de espionagem e agressão cibernéticas, da implementação do sistema global de defesa antimíssil, da implantação de armas nucleares em solo estrangeiro, das reações à teoria e prática do chamado “Ataque Global Imediato”, das tentativas de lançar armas no espaço e da responsabilidade pelo uso de veículos aéreos não tripulados, utilizados para combater os terroristas e que acabam matando civis inocentes. E, é claro, será essencial identificar formas e métodos para evitar revoluções coloridas e interferência de países estrangeiros nos assuntos internos de qualquer outro Estado.
A julgar pelas opiniões de muitos especialistas militares, a nova edição da Doutrina Militar será obviamente mais rígida em suas avaliações e conclusões do que a anterior. Mas isso se deve exclusivamente às atuais relações entre a Rússia e o Ocidente.
Fonte:
Durante a URSS, o “Livro Branco” jamais foi publicado. Nos últimos anos foram feitas várias tentativas para relatar o máximo possível sobre o Exército russo e os desafios que enfrenta. Em 2007 foi lançada a apostila “Tarefas atuais do desenvolvimento das Forças Armadas da Federação Russa”, mas, pela diferença de conteúdos, não se pode compará-lo ao chamado “Livro Branco”, que possui análogos anualmente editados nos principais países do mundo.
Já as metas, tarefas e orientações da atuação das Forças Armadas, e do país como um todo, deverão, em princípio, ser apresentados na nova edição da Doutrina Militar. Desde que a versão atual do documento foi aprovada por um decreto presidencial em 2010, diversos acontecimentos modificaram o cenário internacional e o próprio país. Entre eles, pode-se citar, a guerra civil na Síria, a tomada do norte do Iraque pela organização extremista Estado Islâmico e o aumento da tensão entre a Rússia e os Estados Unidos (bem como a Otan).
O documento deve, portanto, considerar a implantação pelos EUA e pela Otan de unidades de um sistema de defesa antimíssil junto das fronteiras da Rússia e os constantes exercícios da Otan, com embarcações da Aliança navegando perto de águas territoriais russas nos mares Negro e Báltico.
Todos esses fatores, somados à ideia de guerra informativa e psicológica, exigem uma consciencialização conceptual e desenvolvimento de uma nova teoria e prática para combater o “comportamento agressivo dos países do Ocidente”, acreditam os membros do Conselho de Segurança da Rússia.
Potencial inimigo?
Diante do desenvolvimento de uma nova Doutrina Militar russa, surge então a pergunta: o documento irá ou não apresentar o conceito de “potencial inimigo”? E a quem seria designado? Os redatores da doutrina russa de 2010 evitaram cuidadosamente esse conceito, embora os Estados Unidos e a Otan indiretamente se refiram à Rússia como tal.
Outra questão fundamental da nova edição são os princípios de utilização de armamento nuclear. Existe muita controvérsia em torno dessa questão. Alguns especialistas nacionais defendem que na doutrina deve constar o direito da Rússia de efetuar um ataque nuclear preventivo em caso de necessidade de proteger a sua independência e soberania contra forças inimigas superiores. Outros argumentam que essa abordagem terá ressonância extremamente negativa na opinião pública internacional.
O ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas russas, o general Iúri Baluievski, que participou da elaboração da Doutrina Militar de 2010, afirma que os documentos anteriores de 1993 e 2000 não previam o uso de armas nucleares em ataques preventivos – o mesmo é verdade para o documento produzido em 2010. Segundo ele, isso também não vai entrar na nova edição. A Rússia não recorre a essas táticas para resolver contradições internacionais graves. E se, para comparação, utilizarmos os termos adotados pela Otan, então, na base da Doutrina Militar russa está o princípio da “dissuasão nuclear defensiva”.
Caráter defensivo
É esse mesmo princípio defensivo que, segundo Baluievski, deverá constar na nova versão da Doutrina Militar. O documento terá que certamente atender às questões em torno da guerra informativa e psicológica que alguns países ocidentais e os seus meios de comunicação eletrônicos e impressos estão adotando contra a Rússia.
Desse modo, a nova versão tratará de problemas de espionagem e agressão cibernéticas, da implementação do sistema global de defesa antimíssil, da implantação de armas nucleares em solo estrangeiro, das reações à teoria e prática do chamado “Ataque Global Imediato”, das tentativas de lançar armas no espaço e da responsabilidade pelo uso de veículos aéreos não tripulados, utilizados para combater os terroristas e que acabam matando civis inocentes. E, é claro, será essencial identificar formas e métodos para evitar revoluções coloridas e interferência de países estrangeiros nos assuntos internos de qualquer outro Estado.
A julgar pelas opiniões de muitos especialistas militares, a nova edição da Doutrina Militar será obviamente mais rígida em suas avaliações e conclusões do que a anterior. Mas isso se deve exclusivamente às atuais relações entre a Rússia e o Ocidente.
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