Por Luiz Padilha
Quando
o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o decreto 2538 de 8 de
abril de 1998, autorizando a Marinha a operar novamente aeronaves de
asa-fixa embarcadas e orgânicas, o que era um sonho acalentado dentro da
MB em poder operar suas próprias aeronaves, se tornou realidade.
Coube ao “Mingão”, nosso saudoso porta aviões NAeL Minas Gerais
(A-11), a primazia de voltar a receber e lançar aeronaves de asa fixa
novamente, mas dessa vez pertencentes à MB. Apesar das operações estarem
evoluindo no Minas Gerais, as operações
possuíam algumas restrições devido a idade do navio e nesse período, a
MB recebeu a oferta de compra do porta aviões Foch da Marinha francesa.
Construído na França entre 1957 e 1960, o Foch pertence a classe Clemenceau, seu irmão mais velho, já descomissionado e em fase de desmontagem.
O NAe São Paulo
(A-12) foi adquirido pela Marinha do Brasil em setembro de 2000 pelo
valor simbólico de 12 milhões de dólares, e foi recebido pela MB em 15
de novembro desse mesmo ano no porto de Brest, na França, quando ocorreu
sua incorporação através da Mostra de Armamento.
Com mais velocidade e podendo transportar o dobro de aeronaves que o antigo NAeL Minas Gerais (A-11), o NAe São Paulo (A-12), aumentou de forma significativa o leque de aeronaves que a MB poderá operar, ampliando sobremaneira seu horizonte.
Bom, tudo que foi posto acima é algo já
bem conhecido da maioria dos nossos leitores assíduos, então, que tal
conhecermos um pouco mais sobre o nosso porta aviões? Vamos mostrar
agora, um pouco do navio por dentro e algumas particularidades dele.
Apenas não poderemos mostrar o COC – Centro de Operações de Combate pois
não nos foi autorizado fazer fotos lá, porém, o SICONTA MK IV já se
encontra instalado no COC e na Sala do Estado Maior.
Acima o elevador de vante do navio nos
leva para seu hangar, onde as aeronaves durante as operações sofrem suas
inspeções e manutenções e ao final das operações, são colocadas no
hangar para proteção.
Uma das fainas mais interessantes com o
NAe São Paulo, é a sua docagem no AMRJ. No início haviam muitas duvidas
sobre a possibilidade de doca-lo ou não, mas ficou provado que apesar da
diferença mínima, ele cabe no dique principal do AMRJ.
Uma vez docado, seu casco é limpo e o
trabalho de preparo do casco se inicia. Como poderá ser observado nas
fotos abaixo, o estado atual do casco é excelente, e uma das
características pouco conhecidas é que o mesmo possui blindagem
anti-torpédica.
Desde que foi incorporado à MB, o navio
recebeu importantes modernizações e uma delas foi importantíssima. Seu
sistema de refrigeração, ou URA – Unidade de Refrigeração Autônoma, pois
o sistema antigo operando abaixo da linha do Equador, deixava os
sistemas eletrônicos do navio sem funcionar adequadamente, pois vários
necessitam de refrigeração intensa para um bom funcionamento.
A troca das 4 URAs é muito trabalhosa e
para trocar alguma delas é necessário fazer uma “cesariana” no navio,
como podemos observar na imagem abaixo. Hoje o NAe São Paulo se
encontra com as quatro URAs modernizadas e seus sistemas funcionando
normalmente. Antigamente o pessoal que trabalha no CCM – Centro de
Controle de Máquinas e nas Caldeiras sofria com o calor. Hoje, a
tripulação brinca, dizendo que eles precisam trabalhar de casaco.
Agora vamos dar uma passada pelo
Passadiço do navio, local onde o Comandante do navio passa todas as
diretrizes à serem seguidas pela tripulação e pela Torre, onde o
Comandante da Aviação coordena toda a movimentação das aeronaves durante
as operações aéreas.
CCM – Cento de Controle de Máquinas
Esse é um lugar que poucos viram até
agora, e o DAN vai mostrar agora, um pouco de como é complexo controlar e
movimentar o nosso porta aviões.
Na oportunidade que tivemos, fomos até um dos eixos do navio e pudemos observar a grandeza e a complexidade dos sistemas.
Caldeiras
No NAe São Paulo, para poder gerar
energia elétrica, lançar e receber aeronaves é necessário utilizar o
vapor gerado pelas suas 6 caldeiras La Valle. Todos os navios que
possuem caldeiras e trabalham com óleo pesado, tem a mesma aparência.
Catapultas
O NAe São Paulo possui 2 catapultas
Mitchell-Brown BS-5 de 50 metros. Uma de vante e uma lateral. Apesar de
possuírem a mesma potência, a de vante pode lançar uma aeronave até 20
toneladas enquanto a catapulta lateral, por uma questão estrutural,
lança aeronaves até 15 toneladas (a área do convés angulado não permite
20 toneladas). Para que o navio possa lançar aeronaves até 20t pela
catapulta lateral, será necessário uma obra de reforço estrutural no
convés angulado.
A catapulta lateral sofreu extensa
reforma e está pronta para uso enquanto a catapulta de vante, apesar de
ainda possuir um número expressivo de disparos a fazer, terá que passar
pela mesma reforma que a lateral, para que ambas, quando o navio
retornar ao setor operativo, possam operar ‘full’. ( aprox. 900 disparos
cada uma)
Mesmo com o navio apto a operações,
testes com as catapultas antes de uma comissão são necessários, sendo
efetuados disparos “secos” (sem peso), para se verificar a dilatação da
catapulta e estando tudo dentro dos parâmetros, inicia-se o lançamento
com os carros simulando o peso das aeronaves. O acionamento das
catapultas é feito por um posto no convôo mas também podem ser feitos
pelo comandante da aviação em seu porto na torre.
O carro de testes “Amélia” como é carinhosamente chamado, é oriundo do NAel Minas Gerais e com a chegada do NAe São Paulo, um novo personagem foi inserido nos testes, o carro “Brigitte”.
Aparelho de parada
O aparelho de parada do navio foi
totalmente revisado e está pronto para voltar ao trabalho, mas como o
retorno do navio ao setor operativo ainda deve levar um bom tempo por
causa do PMM – (Programa de Manutenção do Meio), o mesmo terá que sofrer
uma inspeção calendárica.
Convôo e Sistema de Defesa de Ponto
No convôo do navio é possível observar o
novo piso que foi totalmente trocado, pois com o uso da Marine
Nationale, o mesmo não se encontrava em boas condições. Hoje ele está
pronto para operar por muitos anos.
O espelho de pouso do NAe São Paulo não está obsoleto, mas será modernizado durante o PMM – (Programa de Manutenção do Meio).
Quando da aquisição do navio, a Marinha
decidiu não optar pelo sistema de defesa de ponto original (Crotale), e
atualmente utiliza 3 lançadores Simbad (míssil Mistral), oriundos do
NAel Minas Gerais como pode ser observado nas imagens abaixo.
Esperamos ter saciado a curiosidade de
muitos leitores que não tiveram a oportunidade de ir à bordo, e assim
mostrar o quão complexo é manter um Porta Aviões.
No ano que vem, o NAe São Paulo
passará por um PMM (Programa de modernização do meio) planejado para
durar meados de 2019. Concluída a modernização, o navio poderá operar
até 2039, apesar de ter sua retirada anteriormente estipulada para 2029.
A DCNS irá participar do PMM, auxiliando
a MB na reforma, que desta vez será integral, ou seja, não mais se
reformará equipamentos e sim, todos serão trocados por novos. A reforma
prevê:
- Reforma do interior do navio.
- Troca de fios e tubulações.
- Novos sistemas de geração e distribuição de energia.
- Novos sistemas de propulsão.
- Restauração dos geradores de vapor.
- Revitalização da catapulta de vante.
- Revitalização dos cabos responsáveis por parar as aeronaves.
- Revitalização dos elevadores, fazendo-os capazes de elevar cargas com mais de 20 toneladas.
- Modernização do sistema de pouso óptico.
- Modernização do sistema de controle de avarias do navio.
- Modernização do sistema de água.
- Modernização das câmaras frigoríficas.
- Modificação dos sistemas de ar comprimido.
- Adoção de um novo sistema de defesa de ponto.
- Troca dos radares de buscas, integrando eles ao SICONTA Mk. IV.
- Instalação de um novo sistema de comunicação.
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