“Muitas
dessas crianças já passaram por coisas que nenhum adulto, muito menos
uma criança, deve ter que passar”, afirmou Julie Bodin da organização
"Save the Children". / GORAN TOMASEVIC /REUTERS |
O número de crianças-soldado a combater na República Centro-Africana
(RCA) duplicou desde que uma guerra civil eclodiu no ano passado naquele
país africano. A organização "Save the Children" publicou, esta
quinta-feira, um relatório onde se estima que entre seis e dez mil
rapazes e raparigas combatam em grupos armados, muito acima dos 2500
recrutados no início do conflito.
O documento, intitulado "Apanhados na zona de combate", descreve que as
crianças começam a ser recrutadas a partir dos oito anos. O recrutamento
é feito com armas apontadas à cabeça das crianças ou, noutros casos,
são as próprias crianças que se voluntariam, na expetativa de sair da
pobreza ou para vingar a morte de pessoas próximas.
Segundo a organização, muitas das crianças tornam-se vítimas de abuso
físico, mental e sexual, acabando por cometer atos de violência
ordenados pelos seus superiores.
Julie Bodin, responsável pela "Save the Children" na RCA, relata que
"muitas dessas crianças já passaram por coisas que nenhum adulto, muito
menos uma criança, deveria ter que passar".
O aumento exponencial de crianças nestes grupos deve-se, segundo o
relatório, à pobreza extrema na República Centro-Africana e à falta de
acesso à educação e emprego.
"Eu tinha uma arma. Com ela matei muita gente"
A organização descreve a vida de Jean (nome fictício), um cristão que se
juntou aos rebeldes de maioria muçulmana Seleka quando tinha 16 anos.
"O tempo que passei no grupo foi intenso, não tinha ideia de que seria
desta forma. Eu tinha uma arma, mas vendi-a quando regressei para poder
ficar com o dinheiro. Com ela matei muita gente", relatou Jean à "Save
the Children".
O relatório indica que as crianças que testemunharam ou cometeram
assassínios e outros atos de extrema violência no seio de grupos armados
têm mais probabilidade de sofrer de transtornos de ansiedade, medo,
depressão, desgosto e insegurança, e podem precisar de apoio
psicológico.
"São necessários mais recursos urgentemente, para reconstruir a vida
destas crianças e para fortalecer as instituições como as escolas. É
essencial não apenas para as crianças, mas para o futuro do país",
afirmou Julie Bodin.
EXPRESSO PT/montedo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário