Pedro Dallari, presidente da Comissão da Verdade (USP Imagens/Creative Commons) |
EVANDRO ÉBOLI
BRASÍLIA - O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro
Dallari, sugeriu, mesmo sem ser explícito, que deputados e senadores
pensem duas vezes antes de aprovar verbas orçamentárias para as Forças
Armadas. Para ele, o Congresso Nacional aprova "substanciosas" verbas
para projetos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mas não há, por
parte das forças, qualquer reciprocidade. A reciprocidade cobrada por
Dallari é que os militares reconheçam as violações ocorridas durante a
ditadura.
- Acho que o Parlamento tem importante papel porque vota o Orçamento
desse país e as Forças Armadas têm recebido enorme apoio. Os maiores
investimentos ou gastos públicos individuais são com as Forças Armadas. O
maior investimento é o submarino de propulsão nuclear, da Marinha. O
Parlamento aprovou orçamento substancioso para compra da frota de jatos
da FAB, os aviões Grippen. Há investimento também substancioso de
recursos para a Embraer desenvolver o cargueiro que irá substituir o
avião Hércules. O Congresso vota o Orçamento, mas não há reciprocidade
no entanto. O gesto de apoio não está sendo retribuído com o
reconhecimento do que houve no passado. Não há contribuição no sentido
da reconciliação, que só virá com esse reconhecimento - disse Dallari,
que participou de audiência pública sobre o relatório da CNV no Senado,
nesta quinta-feira.
Para o coordenador da comissão os senadores e deputados têm uma responsabilidade nisso.
- Há todo momento vemos comandantes militares e o ministro discutindo
projetos para as Forças Armadas. É importante colocar na pauta do Senado
e da Câmara esse diálogo do porquê as Forças Armadas não reconhecem que
houve esse quadro (de violações).
Dallari disse que não está fomentando uma crise institucional.
- Não tenho essa vocação de atear fogo no circo. Sou de família mineira. Mas é importante que aja esse gesto (dos militares).
Ele disse ainda que esse silêncio das Forças Armadas sobre as conclusões
da Comissão da Verdade vai ganhar uma "eloquência enorme" e foi além.
- Vai significar que não há por parte das Forças Armadas a convicção que
não tenha sido correto fazer o que fizeram.E que pode vir a ser uma
alternativa para o futuro na medida que Forças Armadas não entendem que
isso não deveria ter acontecido e que não vai mais acontecer. Só assim
(com o reconhecimento das violações) vai significar a superação desse
período - disse Dallari.
O GLOBO/montedo.com
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