A Transpetro
estuda colocar 23 navios à venda, ou quase metade de sua frota própria
de 53 embarcações, para auxiliar o programa de desinvestimento da
Petrobras. A empresa estima obter, segundo estudo obtido pelo GLOBO,
cerca de US$ 270 milhões (cerca de R$ 845 milhões) com a operação, mas
especialistas do setor temem que se trate de um negócio ruim: a
Transpetro ficaria à mercê dos contratos de afretamento, perderia
agilidade e ainda venderia ativos que são altamente lucrativos.
O assunto é
sigiloso na Transpetro, que é uma subsidiária da Petrobras. Mas a lista
foi elaborada com base nos navios para os quais a empresa não tem
obrigações a pagar, como restos de financiamento. Como a Transpetro
possui pouca margem de manobra para vender oleodutos, este seria o único
caminho para auxiliar no esforço de desinvestimento de US$ 13,7 bilhões
(R$ 42,9 bilhões) programados pela Petrobras. Se confirmada, a venda de
navios poderá representar apenas 2% do total que a estatal quer vender.
Fontes do
mercado acreditam que há interessados nestes ativos, até porque
acreditam que, assim que comprarem esses navios, fecharão contratos de
afretamento com a Transpetro. Outros, os mais baratos, poderão virar
sucata. Os valores estimados pela estatal são considerados coerentes,
por serem baseados em seguros dos navios.
DE SUCATA A EMBARCAÇÕES NOVAS
A lista dos
navios é heterogênea: inclui desde embarcações novas, altamente
lucrativas, até sucatas e navios recentemente reformados, mas cujo valor
investido não será recuperado na venda. A estatal está, desde 2004,
fazendo um grande programa de renovação de sua frota. Apenas dois navios
valem, cada um, US$ 78 milhões (cerca de R$ 166 milhões): Ataulfo Alves
e Cartola. Os dois, considerados novos, são altamente lucrativos:
faturam, cada um, US$ 50 mil por dia, segundo fontes internas da
Transpetro.
No resto da
lista, os demais 21 navios valem, no máximo, US$ 7 milhões (R$ 22
milhões), enquanto alguns foram segurados por apenas US$ 2 milhões (R$
6,26 milhões), valor considerado de sucata no setor, caso do Guaporé e
do Guarujá.
PARA ANALISTAS, INICIATIVA TRAZ INSEGURANÇA AO SETOR
Na lista da
Transpetro, há ainda três navios, Lages, Lambari e Lavras, que foram
segurados, cada um, em US$ 3,750 milhões (R$ 11,8 milhões) mas que
passaram recentemente por reformas, como casco duplo, onde foram
investidos até US$ 5 milhões em cada embarcação (cerca de R$ 15
milhões). Muitos destes navios ainda têm vida útil superior a 15 anos.
Como a
estatal não pretende reduzir suas atividades, a empresa terá de fretar
embarcações — algumas vezes, poderá fechar contrato justamente com os
donos dos navios que vai vender. Isso, segundo especialistas, pode
significar custo maior, perda de flexibilidade nas operações e até abre
margens, segundo outro analista que pediu para não ser identificado, de
desvios, uma vez que estes contratos de afretamento são pouco
fiscalizados.
Além disso, a
venda desses navios cria insegurança ainda maior na indústria naval,
que começou a se recuperar justamente com as encomendas do setor de óleo
e gás. A Transpetro havia decidido comprar 49 navios, mas apenas oito
foram entregues até o momento. Uma mudança na política de frota própria
poderia colocar em xeque todas as demais encomendas.
ESTATAL NÃO COMENTA
Questionada, a Transpetro não respondeu ao pedido do GLOBO, sob a alegação que não comentaria o assunto.
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Questionado
sobre a possibilidade de venda de navios, Severino Almeida, presidente
do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), afirma
que se este negócio ocorrer será ruim para a Transpetro.
— É um
esforço muito grande para a Transpetro, que terá um forte aumento de
custos com o afretamento de embarcações, por um valor relativamente
pequeno diante de todo o esforço muito maior que a Petrobras precisa
fazer neste cenário, não é economicamente interessante, não há
argumentos para justificar este negócio — disse.
Ele lembrou
ainda que a Transpetro tem diversos navios contratados, ainda como parte
do antigo Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), no
âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com previsão de
investimentos de R$ 11,2 bilhões. Além da insegurança a estas
encomendas, a venda não significaria quase nada perto do que a
Transpetro precisa pagar para os contratos já assinados dentro deste
programa.
Fonte: O Globo/http://saladeestado.blogspot.com.br/
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