Um país com condicionantes de política externa altamente estratégicos, uma posição internacional de extrema relevância, abundância em recursos minerais e energéticos, 10 fronteiras que necessitam de atenção, altos índices de violência, a maior floresta do mundo, 40% da água potável do mundo, 200 milhões de habitantes, sétima economia mundial, e ter um desrespeito com o aparato de defesa? É no mínimo curioso o descaso que o governo federal, congresso e senado brasileiros fazem com as Forças Armadas. De todas as potências mundiais, e com similaridades de condicionantes, qual delas trata a política de defesa como o Brasil? Nenhuma. Mesmo que na ótica, política defesa “não dá voto”, mas defesa representa, além de uma garantia constitucional do cidadão, a garantia de ordem e segurança da nação, e um dos maiores sistemas de integração nacional.
Durante diversos governos, as Forças Armadas sempre sofreram com cortes orçamentários e sucateamento de seu aparato. Até que no governo Lula, as Forças Armadas tiveram um respiro, mas parece que no atual, a política é contrária. E o mais interessante, agora vejo efetivamente que a “caserna” está acordando, como o povo nas ruas.
Aconteceu na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) no Senado Federal, reunião estratégica para discutir nota técnica enviada ao senado referente ao orçamento de 2014 das Forças Armadas. Os comandantes das Forças, Almirante de Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, o General de Exército Enzo Martins Peri e o Tenente Brigadeiro do Ar Juniti Saito, discorram com a comissão sobre o “furo” de R$ 13,4 bilhões no orçamento de 2014, considerando que os recursos projetados são, literalmente, insuficientes para o custeio de atividades rotineiras, como por exemplo alimentação da tropa e manutenção dos equipamentos. Assim, como podemos pensar em uma Estratégia Nacional de Defesa? O livro Branco da Defesa, na verdade está no “Vermelho”, e a tropa desmotivada para o combate.
Para os militares, a estrutura atual do orçamento coloca em risco os atuais interesses nacionais referente ao Pré Sal, e até mesmo na Amazônia, sem contar a insegurança das fronteiras. O cidadão comum pensa, “como isso pode me afetar”? É muito simples, sem uma aplicação séria e prática da defesa, a mesma desencadeia um sistema e um estado de insegurança pública nacional, principalmente com narcotráfico, contrabando de armas, bio-espionagem, além de problemas fronteiriços com guerrilhas e violências de Estados (inclusive imigrações ilegais).
Considerando a projeção do orçamento, 2014 é quase impossível um re-aparelhamento da tropa, principalmente na marinha e na aeronáutica. Para alguns senadores, a culpa está na renúncia fiscal que o governo fez em relação ao processo de desoneração em favor da indústria automobilística e de “linha branca”, em um montante de R$ 40 bilhões em 2013. Me pergunto se isso efetivamente afeta o processo estratégico de defesa nacional? Será que não está mais do que na hora de analisar a estrutura de custeio das Forças Armadas? Rever o contingente de “quartéis”, e ter uma visão mais especialista-operacional da tropa? Desenvolver definitivamente a indústria bélica nacional para o mercado internacional? Ampliar a pesquisa tecnológica de defesa? Rever o orçamento para as missões de paz? (mesmo considerando que as missões são de extrema importância para a qualificação dos quadros militares). Por quê não ampliar o uso da engenharia militar em grandes obras públicas? Por sinal, já se mostrou mais eficiente e de economia orçamentária, melhor que grandes construtoras. Ampliar a participação da estrutura de saúde militar nos grandes rincões brasileiros. Ampliar a participação das escolas militares no seio da sociedade, que por sinal, as escolas militares têm os melhores indicadores de qualidade, diferente dos 75% de instituições de ensino superior que estão na média 3 (ENADE/MEC).
É notório, e histórico, que há anos muitos quartéis são obrigados a trabalhar sob um regime diferenciado de expediente para racionalizar alimentação. Muitos coronéis são obrigados a desenvolver mais uma estratégia de economia, do que uma estratégia de defesa. E no fim, isso cria um desgaste natural, e motivacional na tropa. Só para lembrar, a Farra da FAB, do uso deturpado dos aviões para transporte de políticos, na verdade escancara outro problema, a falta de combustível na Força Aérea. Imagina como fica a necessidade de patrulhamento da Amazônia?
E para piorar o contexto, depois dos casos de espionagem internacional denunciados pelo ex agente americano, Edward Snowden, ficou escancarado que o Brasil está cego no quesito inteligência e contra-espionagem. Inclusive, o próprio Centro de Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro sofreu cortes no seu orçamento para 2014, um prato cheio para os espiões internacionais. Em audiência pública na mesma comissão do senado, em 22 de agosto, o General Antonino Guerra Neto afirmou: “Mantidos os recursos no patamar para 2014, o programa só vai ficar pronto em 2074, quando será a rigor, quase inócuo”. Na verdade será totalmente superado e destruído. Parece que o Brasil insiste em entrar na guerra já como “soldado morto”.
É óbvio que a ameaça de conflito para o Brasil é quase nula, mas escancarar a defesa assim é um ultraje na inteligência internacional, e ao mesmo tempo um prato cheio para as atuais e novas ameaças do século XXI, inclusive terrorismo.
Por que as Forças Armadas sofrem tanto? Seria uma “vendetta”?
A nossa sorte como cidadãos, que os quadros de oficiais e praças das Forças Armadas são formados por pessoas de bem e da sociedade, principalmente das classes C e D, e que olham para a tropa com um olhar mais “respeitado”, e até mesmo “carinhoso” com a missão de proteger o país.
Nós não precisamos ser um Estados Unidos, ou uma China, mas precisamos pensar como eles, e principalmente de forma mais profissional e altamente estratégica. Esta idéia de achar que a excelência é inimiga do bom, e se contentar com o bom, na verdade é um tiro no pé, e traz para o cidadão comum, no seu dia-a-dia um estado de violência alarmante. Defesa é coisa séria, tanto quanto, saneamento, educação e saúde.
E uma questão estratégica internacional, como posso pensar em assento permanente no Conselho de Segurança da ONU com esta estrutura?
Para finalizar, interessante o vídeo, de 2012, da Associação Nacional dos Militares do Brasil:
Nenhum comentário:
Postar um comentário