Um chip milimétrico com propriedades similares às de um painel de
energia solar poderá devolver a visão a pessoas com problemas de retina,
a membrana que fica no fundo dos olhos e é responsável por captar a
luz.
A técnica teve sucesso com ratos e deve ser testada em humanos dentro de um ano.
Desenvolvido pela Universidade Stanford, da Califórnia, o método foi
apresentado nesta sexta no encontro da AAAS (Associação Americana para o
Avanço da Ciência), em San Jose. Daniel Palanker, criador da
tecnologia, já licenciou sua ideia para a empresa francesa Pixium
Vision.
O dispositivo é voltado sobretudo a pessoas que sofrem de degeneração
macular –uma doença relativamente comum em idosos– causada por morte de
células receptoras de luz da retina. Como essas células fotorreceptoras
são parte do sistema nervoso, que não se regenera facilmente, a
esperança de cura por medicamentos é virtualmente nula.
A ideia foi substituir as células por pequenos chips de 2 mm, feitos de
material similar ao que existe em painéis solares. Quando recebem luz,
eles emitem impulsos elétricos que estimulam terminações nervosas da
retina e levam informação visual ao cérebro.
Esse tipo de técnica vem sendo desenvolvida por vários grupos de
pesquisa há mais de duas décadas, mas vinha esbarrando em problemas como
falta de resolução e dificuldade de implante.
Desde 2013, a empresa Second Sight já vende um tipo de retina
artificial, mas o aparelho gera uma visão de baixa precisão –próxima ao
limiar pelo qual oftalmólogos consideram alguém cego. Além disso, requer
que um cabo entre pela lateral do olho e vá até a retina.
O dispositivo criado agora por Palanker não requer cabos, incisões ou
perfurações. A própria luz que incide no chip implantado na retina gera a
eletricidade que é transmitida aos neurônios visuais.
O único problema é que, para conseguir essa geração de energia, é
preciso uma quantidade muito grande de luz, e os objetos que enxergamos
no dia a dia não estão suficientemente iluminados.
O cientista contornou o problema criando um óculos com uma câmera no
centro, que projeta as imagens em dois painéis de alto brilho na frente
dos olhos.
Essas pequenas telas, porém, só emitem luz infravermelha: invisível ao
olho humano comum, mas captada pelo chip de Palanker. Para instalar o
dispositivo sob a retina, o cientista usa apenas uma agulha especial.
Os aparelhos que serão testados no ano que vem pela Pixium possuem 65
micrômetros de largura, uma resolução ainda baixa comparada ao tamanho
das células fotorreceptoras naturais do olho humano, com 5 micrômetros.
"Mas nós já estamos conseguindo produzir chips com pixels de 40
micrômetros", disse Palanker à Folha. "Essa diminuição em tese seria
capaz de dar aos pacientes uma resolução suficiente para reconhecer
faces e ler livros."
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